Como é o processo de aprendizagem no Ensino Fundamental I e como pode beneficiar o seu filho/a

No Ensino Fundamental, a grande porta para o processo educativo é o sentir. É através da vida de sentimentos e fantasia da criança que todo conteúdo escolar é vivenciado. Português, matemática, línguas, estudos da natureza e da humanidade são permeados com práticas artísticas, apresentados através de jogos rítmicos, histórias e músicas e desenvolvidos pelas mãos das crianças.

O professor de classe acompanha seu grupo de crianças do primeiro ao último ano do fundamental, construindo um forte vínculo de amor e confiança com crianças e famílias, procurando proporcionar um desenvolvimento saudável e integrando pensar, sentir e querer no dia-a-dia escolar. Respeitando as diferenças individuais, o método visa facilitar o processo de descoberta das capacidades e realização do potencial de cada aluno, a partir das disciplinas exigidas pelo Ministério da Educação – MEC e de acordo com a Política Nacional de Educação, e das disciplinas complementares, com foco nas especificidades Waldorf e com base na Antroposofia.

 

 

O Ensino em épocas

Na Pedagogia Waldorf o ensino acontece em épocas. Os conteúdos são trabalhados agrupados em blocos por um período de quatro semanas. Encerrada uma época, outra vem permitindo que tudo que foi trabalhado nas últimas semanas adormeça na criança e seja acordado ao ser retomado em épocas futuras, acontecendo até mesmo daquilo que foi um desafio para criança ressurgir amadurecido e sem as dificuldades outrora existentes. No 1º ano trabalhamos em torno de nove épocas anuais, sendo a primeira a Época de Desenho de Formas, que antecede quatro épocas de Português (apresentação de todo alfabeto, escrita e leitura) e quatro épocas de Matemática (apresentação dos números romanos, dos algarismos indo-arábicos e das quatro operações matemáticas), que acontecem alternadamente.

O desenho de formas é uma atividade pedagógica indicada por Rudolf Steiner para ser usada a partir do 1º ano escolar, constituindo aí a base para o aprendizado da escrita, através do treino de linhas retas e curvas. A vivência do traçado destas linhas se inicia com o corpo e chega a ponta dos dedos, partindo do movimento amplo para o movimento fino. Já no primeiro dia de aula num 1º ano, onde as crianças oriundas de um Jardim de Infância Waldorf escrevem pela primeira vez, são apresentadas a linha reta ( l ) e a linha curva ( C ) que servirão de base para escrita do alfabeto bastão maiúsculo.

Os demais conteúdos como os Reinos da Natureza, os Quatro Elementos, as Estações do Ano e os astros são cultivados através das atividades rítmicas, de narrações e pela observação da natureza, durante todo o ano.

 

 

O Primeiro Ano

Quando as letras são introduzidas no 1º ano, as vogais se formam a partir de gestos que se transformam em símbolos e as consoantes são apresentadas fazendo o caminho da história para letra, passando pela imagem.

Em tempos primórdios, o conhecimento era transmitido pela tradição oral e ficava registrado exclusivamente na memória, com o passar do tempo começaram a existir os registros através das imagens (pinturas rupestres) e depois dos hieróglifos, a partir dos quais foi criado o primeiro alfabeto composto só por consoantes. O processo de alfabetização Waldorf, acontece relembrando o processo em que ocorreu a alfabetização da humanidade. A apresentação de cada uma das consoantes se dá da mesma forma:

– as crianças ouvem uma história da qual é tirada uma estrofe que será explorada oralmente;

– depois do trabalho oral, é apresentado o desenho na lousa, cuja forma e movimento propiciarão a retirada da letra trabalhada. As crianças reproduzem o desenho em seus cadernos com todo empenho e capricho;

– por fim, a letra é apresentado aos alunos e eles citam palavras com este mesmo som, que serão registradas em seus cadernos.

A grande diferença na apresentação das vogais em relação as consoantes é que após o trabalho oral (da história até a estrofe), se passa para um trabalho corporal, com movimentos que envolvem todo o corpo acompanhados dos sons AH – EH – IH – OH – UH. A imagem registrada no caderno pode ser a imagem do movimento do nosso corpo, do nosso grande gesto. E enquanto com as consoantes as imagens trazem algo que se transforma em símbolo, as vogais trarão qualidades anímicas como alegria, insistência, otimismo, entusiasmo e união, por exemplo.

 

 

O Segundo Ano

Podemos nomear o 2º ano waldorf como o ano do tempo. E tempo é ritmo, movimento, ciclo, polaridade… Neste contexto, do macro para o micro, os alunos observam e vivenciam as mudanças ocorridas na Natureza, desde o todo formado pelo ano até o pequenino segundo, passando pelas datas comemorativas, estações do ano, calendário, relógio… O ciclo da água, através da Época Da Gotinha d’Água, e o ciclo da semente à utilização da planta, através da Época Horta, Pomar e Jardim também vem fortalecer esse contexto no mundo mineral e vegetal.

A escrita e a leitura são consolidadas durante todo ano através de histórias, poemas, trava-línguas, canções, brincadeiras e etc., acompanhados pelo movimento rítmico corporal.

E é este movimento rítmico corporal, trabalhado diariamente, que traz as tabuadas de forma viva até a memória. Aqui, a tabuada é decorada no sentido etimológico da palavra: “guardar no coração”. Durante quatro épocas anuais, as tabuadas do 1 ao 12 passam a fazer parte do dia-a dia escolar, se estendendo para muito além do 2º ano.

Nas histórias, os contos de fadas dão lugar às fábulas e lendas de santos, causando até certo espanto por parte dos alunos, pela construção textual tão distinta do que estavam acostumados anteriormente. Uma vem mostrar as fraquezas humanas cotidianas através das figuras de animais, e outra, em contrapeso, a grandeza que o homem pode alcançar na busca de aperfeiçoamento. Cultivadas lado a lado, as fábulas e lendas despertam duas posturas anímicas que se complementam; “de um lado, tolerância temperada com humor, do outro, capacidade de admirar”.

 

 

O Terceiro Ano

Neste período as crianças começam a viver a crise dos 9 anos – se percebendo enquanto individualidade – não se vendo mais una ao outro e nem ao todo; é como se de repente, acordassem num mundo diferente e desconhecido, o que gera a sensação da queda do paraíso, da perda da segurança, do despertar para possibilidade da própria morte e da morte das pessoas que ama. E sabiamente, o currículo waldorf vem ancorar este momento biográfico, mostrando para elas que vale a pena viver neste novo e “desconhecido” mundo, com o qual podemos e devemos interagir, atuando positivamente.

As histórias trazem a criação do mundo, a chegada do homem na Terra e a sua atuação mostrando assim o surgimento das profissões primordiais, a evolução das moradias no decorrer da história da humanidade, que se dão, graças ao dom de transformar do qual é dotado cada ser humano – o que fica ainda mais evidente no processo do preparo da terra para o plantio do trigo, até a colheita e preparo do pão com a farinha produzida pela própria classe.Este novo mundo – interno e externo – precisa ser reconhecido, organizado e classificado, o que acontece, principalmente, na Língua Portuguesa através do início do trabalho com as classes gramaticais (substantivos, adjetivos e verbos) e na Matemática com a chegada do sistema de numeração decimal.

 

 

O Quarto Ano

Na crise dos 9 anos a criança passa por um processo de consciência de si, trazido pela manifestação do EU, que faz com que ela se reconheça enquanto individualidade. As mudanças iniciadas no 3º ano se consolidam no 4º, o que podemos perceber nesse processo de individualização cada vez mais evidente: surge a separação entre meninos e meninas com a identificação com uns e o estranhamento com outros, os embates na classe são mais frequentes, o professor deixa de ser perfeito… A criança se afasta do mundo uno e agora necessita afirmar-se neste “novo” mundo, o qual ela passa a olhar analiticamente.

O currículo waldorf vem ancorar este momento com a Mitologia Nórdica fazendo o caminho do homem do céu à terra, até a chegada do EU – nossa individualidade. Nesse contexto, auxiliando a criança a se situar no tempo e no espaço, as épocas de Português, Geografia e História local contam de suas raízes, pertencimento, de sua localização, partindo do tempo atual – o presente, conhecendo o pretérito e vislumbrando o futuro. Nas épocas de Matemática, o trabalho com as frações trazem a compreensão do todo e das partes e a segurança que mesmo independizando-se, não deixa-se de fazer parte do todo do qual surgimos. A análise do mundo fracionado fica também perceptível na época de Antropologia e Zoologia que desmembra o ser humano em partes interdependentes, tal como somos nós em relação ao mundo, e separa os seres da criação em reinos, dando ênfase ao reino mais próximo do homem – o animal, diferenciando-nos destes, por termos nossos braços e mãos livres para aprender a agir de forma altruísta com todos os seres ao nosso redor, dom esse, que deve caracterizar nossa espécie!

 

O Quinto ano

Podemos entender o 5º ano como o ápice de uma montanha que a criança vem galgando desde o nascimento e agora, corporalmente, atinge uma proporção tão harmoniosa que somente será alcançada na vida adulta. Para atender esse momento, a melhor imagem é a do grego do período da Grécia Clássica – aquele momento em que a humanidade atinge com sua capacidade de percepção e reflexão a possibilidade de pensar sobre o mundo e não de simplesmente viver nele. A criança começa a olhar o mundo e refletir sobre ele e daí nascem muitas perguntas. Inaugura-se um período maravilhoso de maior diálogo entre as próprias crianças e entre as crianças e os adultos que as cercam. Do pico da montanha ela olha o mundo inteiro e tem vontade de conhecê-lo profundamente.

Épocas como as de História das Antigas Civilizações, Geografia, Zoologia, Geometria, além das de Língua Portuguesa e Matemática, vêm apoiar este momento biográfico, inserindo as crianças no espaço através do conhecimento das etapas do desenvolvimento da humanidade e da descoberta de um mundo mais objetivo, com leis mais independentes do ser humano, desenvolvendo nelas o interesse pelo mundo e pelos seus semelhantes. É natural que essas aulas falem ao sentimento (como deve acontecer em todo o 2º setênio), mas além disso, se voltando para o pensar imagético-concreto; as crianças tem de poder sentir um imenso prazer quando começam a captar pequenos detalhes e fazer grandes relações.

Coroando o 5º ano, grupos de escolas waldorf se juntam para os Jogos Gregos, onde os alunos começam o dia com arte, vivenciam o pentatlo – conjunto dos cinco principais exercícios atléticos praticados pelos antigos gregos: corrida, arremesso de disco, salto, lançamento de dardo e luta – e encerram sendo agraciadas com belas coroas de louros.