Como a Pedagogia Waldorf contribui para o desenvolvimento das crianças de 1 a 6 anos
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A pedagogia Waldorf não é uma metodologia, mas uma proposta pedagógica e da mesma forma que o alimento que se come, nutre o corpo, as experiências com o belo, a música e a poesia alimentam a alma. Fica evidente o cuidado estético que se tem dentro das escolas Waldorf: as cores suaves, cestas de palha, móveis e brinquedos de madeira, bonecos de pano.
A sala tem vários cantinhos separados por cavaletes, cobertos por tecidos, onde as crianças brincam de casinha ou de se esconder. Os brinquedos são organizados em cestas no chão ou em prateleiras com altura suficiente para as crianças alcançarem. Em baixo das cabanas, estão os colchões. Tudo bem simples, com uma distribuição tão harmônica que faça transmitir aconchego. Assim é uma sala de Educação Infantil Waldorf.
Vejam alguns princípios da Pedagogia Waldorf para a Educação Infantil:
1. A imitação
Para a pedagogia Waldorf, a criança pequena é essencialmente movimento, está mais atenta aos gestos do educador do que propriamente a sua fala e explicações. Por isso, o professor Waldorf deve estar atento para que seus gestos sejam plenos de sentido, ou seja, os movimentos não deverão ser descuidados, mas sim conscientes. Uma professora waldorf falará com as crianças suavemente, movimentar-se-á no ambiente com gentileza e cuidado. Estará atenta ao que passa a seu redor e suas mãos deverão estar sempre trabalhando: consertando um brinquedo, costurando uma boneca ou fazendo roupinhas. Pode também cozinhar, preparar um bolo ou biscoitos. Sua relação é com a vida que acontece e não apenas com informações sobre a vida.
A criança vai brincar imitando o trabalho do adulto, seus gestos e, sobretudo, sua dedicação interior. A criança se interessará naturalmente por esse afazer, seja ele qual for: pedreiro, médico, marceneiro ou arquiteto. Através da observação do empenho do adulto em seu trabalho, com os instrumentos que ele usa para fazê-lo, a criança vai se interessando, descobrindo o mundo e interagindo com ele.
2. O corpo e o movimento
A experimentação do corpo, com brincadeiras criadas pelas próprias crianças em função de suas necessidades, traz a liberdade tão necessária para a criação. Movimento e criatividade estão interligados nessa fase. Por isso, a Pedagogia Waldorf valoriza a importância do movimento para o desenvolvimento saudável da criança. Ela aposta na compreensão do ser humano como um ser integrado, entendendo que o brincar livre e o movimento espontâneo são vitais para uma vida imaginativa livre, como a experiência do belo e a criatividade são fundamentais para a formação do corpo.
3. Os brinquedos e as brincadeiras
Os brinquedos da Educação Infantil deverão ser simples: a pedagogia Waldorf aposta na capacidade da criança projetar no objeto aquilo que está no interior dela, em sua alma. Por exemplo, ao ver uma boneca feita de pano, sem expressão facial definida, ela pode desenvolver de forma mais plena, o seu potencial imagético. Ela fantasia, de acordo com seu íntimo, se a boneca está feliz, triste, com medo, possibilitando que dessa forma, surja sua própria expressão.Trazendo para o mundo exterior o que acontece em seu interior.
Para essa pedagogia, aos brinquedos prontos e industrializados, falta a qualidade primordial do brinquedo: o estímulo à fantasia. A criança não precisa necessariamente de brinquedos prontos para brincar: é corriqueira a situação em que, por vezes, ela acaba preferindo as possibilidades que a embalagem do presente oferece (amassando, rasgando, ouvindo o som, “vestindo” uma caixa) do que o próprio presente.
Outros elementos como tocos de madeira, pedaços de tecidos de diferentes cores ou sementes são utilizados na Educação Infantil. As crianças transformam esses instrumentos em brinquedos e em brincadeiras infinitas. Um pedaço de pano pode ser uma capa de um rei ou um tecido para acalentar a boneca, uma casca de coco pode virar um barquinho ou uma panela, um pedaço de pau pode ser um cavalinho ou uma espada. A criança tem a liberdade para mudar a brincadeira, metamorfosear os brinquedos. O brinquedo saudável deve incentivar a fantasia.
Brincar ao ar livre explorando a natureza será fundamental: subir em árvores, explorar jardins, catar gravetos e sementes. Os brinquedos oferecidos são: caixa de areia, pernas de pau, baldes, pás, cordas, canecas, escorregadores, balanços, dentre outros. As crianças precisam testar limites, adquirindo assim novas habilidades. Ao ar livre elas poderão correr, cair, pular, escalar, esconder-se ou construir cabanas. São as próprias crianças que ajudam em algumas atividades domésticas como varrer o pátio, molhar as plantas ou lavar e estender roupas no varal.
Na pedagogia Waldorf, a poesia faz parte da educação infantil através dos versos ou da recitação de poemas. As histórias contadas são as de contos de fadas, de preferência dos Irmãos Grimm ou antigos contos populares. Para esta abordagem, os contos de fadas trazem, em forma de imagens, as verdades do mundo. Um rico universo de fantasia é transmitido através de uma infinidade de personagens como bruxas, vilões, fadas madrinhas, criaturas do mal, heróis ou princesas. As histórias são sempre contadas, nunca lidas, pois ao escutá-las as crianças podem imaginar seus próprios personagens, criar suas próprias cenas; se a criança acompanhar os desenhos do livro, pode adotar aquela imagem ao invés de inventar a sua.
Os professores podem tocar kântele para acompanhar algumas atividades como aquarela ou contação de estórias. Esse instrumento de cordas em escala pentatônica é apresentado à criança a partir dos cinco anos. É nessa idade também que inicia-se os trabalhos manuais, através do tricô de dedo. São dois instrumentos que contribuem para o aprimoramento das habilidades motoras finas.
Cantigas de roda, contos de fadas, teatrinhos de bonecos, modelagem em cera de abelha natural, pinturas com aquarela, tricô de dedo, farão parte das atividades pedagógicas da criança nesse momento, como coadjuvantes das formas de expressão. Deixar desabrochar o potencial criativo e imagético da criança nos primeiros sete anos será a base do jardim de infância.
4. A importância do ritmo
Como o movimento natural da respiração de inspirar e expirar, de acordar e dormir, o ritmo diário é conduzido de forma que a criança alterne momentos de expansão e introspecção, atividades livres e dirigidas ou esforço e descanso. O ritmo é a “respiração da aula”. As atividades devem seguir com momentos mais interiorizados e outros de maior extroversão. Para a pedagogia Waldorf é muito importante a condução de um ritmo marcado e saudável, pois isso proporcionará segurança para criança, desenvolvendo assim sua confiança no mundo.
Abaixo um exemplo prático de um ritmo diário no jardim de infância:
- As crianças chegam na escola: brincam livremente no pátio ou dentro da sala.
- Após todos chegarem é feita uma roda de bom dia.
- As crianças são convidadas a fazerem uma atividade como desenho livre, por exemplo; pintura em aquarela; ou fazer o pão; pintar ovos para a Páscoa, se for Semana Santa etc.
- Brincam livremente.
- Arrumam os brinquedos em seus lugares.
- Fazem uma roda rítmica (com gestos e canções relacionados com a época do ano).
- Preparam-se para o lanche
- Lancham e ajudam a recolher a mesa
- Saem para o pátio.
- Retornam e preparam a sala para ouvir o conto de fadas.
- Retornam para suas casas.
O professor, como um maestro, deverá harmonizar o ritmo, de forma que as atividades possam ser feitas com sentido. Ele deve proporcionar vivências de tempo, de modo que as crianças percebam um processo, um encadeamento. É importante que as atividades tenham começo, meio e fim. O ritmo também vai fortalecer o hábito.
Os ritmos semanais serão dados pelas atividades dos dias da semana. Cada professor tem autonomia, dentro dos princípios da pedagogia waldorf, para escolher a atividade que caracterizará os dias no decorrer da semana. Por exemplo, num dia pode ser uma atividade artística como aquarela, desenho ou tricô, em outro dia pode ser alguma atividade culinária. Quando é o dia de comemorar o aniversário de uma criança, o ritmo do dia será voltado para esse evento.
Uma das propostas mais frequentes é a roda rítmica. Elas são repetidas por quatro semanas em média e podem ter como tema inspirador uma festa, as estações do ano com os principais arquétipos inspirados pelos ciclos da natureza ou contos de fadas.
Os ritmos anuais são marcados pelas festas: Carnaval, Páscoa, São João, Festa dos ventos, Festa da primavera, Michael, Advento e Natal. As escolas Waldorf festejam esses momentos enfatizando o enfoque simbólico das festas, e nunca o comercial.
5. Alimentação
A escola Waldorf vai procurar trazer o ritmo também para a alimentação. Na educação infantil as crianças lancham o alimento feito na escola, e sempre que possível, ajudam na preparação dos alimentos, que nunca deverão ser industrializados. Os lanches serão elaborados respeitando as estações do ano, preferencialmente orgânicos e integrais, de acordo com a região em que vive. Serão oferecidos cereais, legumes e frutas, dialogando sempre com a época propícia de cada alimento. Além disso, há o dia do pão, o dos biscoitos, o do arroz integral, o do inhame ou da tapioca; bem como, para cada dia da semana se oferece uma fruta diferente. Sempre trazendo o aspecto lúdico através de imagens, a professora vai contando uma estória enquanto prepara o pão ou os biscoitos com as crianças.
É dessa forma que a pedagogia Waldorf pratica a ecologia com as crianças na educação infantil: na interface dos ritmos da natureza com seu ritmo diário, sempre priorizando as vivências. Comendo tangerina na época natural da fruta, elas vão captando a interligação entre as estações do ano, o clima e os alimentos. As próprias crianças que vão descascar a fruta, e depois de comê-las, vão jogar fora a casca no local adequado. É uma vivência orgânica, através da qual elas vão criando hábitos como separar o lixo, ou economizar a água. A noção de ecologia e necessidade real de consumo também será trabalhada nos aspectos pedagógicos do dia a dia, como por exemplo: o cuidado na quantidade e qualidade dos brinquedos (com seu caráter natural de transformação), na inexistência de apelos a produtos comerciais (não existem bonecos e acessórios de personagens) no aproveitamento de elementos da natureza para as brincadeiras (sementes, folhas, gravetos, etc…).